Quem acompanha o mercado imobiliário sabe que, em cenários de aumento da taxa de juros, o segmento tende a se retrair. Em muitos países, as vendas desaceleram porque a maioria dos compradores depende de financiamentos, e o aumento das taxas – como a Selic – encarece as parcelas. Essa lógica é amplamente aceita em diversos mercados globais. No entanto, o comportamento do mercado imobiliário brasileiro vem desafiando essa expectativa.
Um cenário de crescimento atípico
Apesar dos juros elevados, o primeiro bimestre de 2025 apresentou um surpreendente aumento nas vendas de imóveis, segundo os dados do Secovi Rio, abrangendo todas as faixas de preço. Essa contradição pode ser explicada, em parte, pela melhora nos indicadores econômicos, como o aumento do nível de emprego e a manutenção da renda crescente nos últimos meses. Esses fatores fortalecem o poder de compra da população, mesmo diante do cenário de juros altos.
Porém, além dos fatores econômicos, há uma característica cultural que torna o mercado imobiliário único no Brasil: o imóvel é muito mais do que um bem de consumo ou uma simples garantia de moradia. Para muitos brasileiros, adquirir um imóvel representa um objetivo de vida – uma tradição transmitida de geração em geração. Em um país marcado por crises econômicas e instabilidades políticas, os imóveis se transformaram em verdadeiros portos seguros para a preservação do patrimônio familiar.
Proteção em tempos de incertezas
Em meio a um cenário internacional complexo, com inflação elevada, dólar oscilante e movimentos políticos internos instáveis, muitos brasileiros buscam refúgio em ativos considerados mais sólidos. O imóvel destaca-se como essa âncora de segurança. Além disso, a rentabilidade por meio de aluguéis continua sendo uma alternativa atrativa para investidores, oferecendo uma fonte de renda passiva que pode complementar – ou até superar – os ganhos dos investimentos tradicionais.
O dinamismo dos lançamentos
O setor imobiliário não se restringe apenas aos imóveis usados ou prontos para morar. O mercado de lançamentos segue aquecido, apresentando tendências diferenciadas para segmentos específicos:
• Alto luxo:
Mesmo com as taxas elevadas, clientes de alto poder aquisitivo continuam investindo em lançamentos exclusivos, motivados tanto pela busca por segurança patrimonial quanto pelo potencial de valorização futura desses ativos.
• Baixa renda:
Governos e instituições privadas vêm incentivando programas habitacionais que facilitam o acesso à moradia, promovendo lançamentos com condições de financiamento mais acessíveis. Essa estratégia, aliada à tradição cultural de investir em imóveis, impulsiona a demanda nesse segmento.
Imóveis comerciais: um sinal de recuperação
Outro aspecto que reforça o otimismo no setor é a recuperação do mercado de imóveis comerciais, como salas e lojas. Nos últimos anos, esse segmento vinha sofrendo uma queda nos preços, influenciado por mudanças como o trabalho remoto e o redimensionamento de espaços pelas empresas. Contudo, o início de 2025 registrou uma melhora significativa, atingindo níveis que não se viam desde 2020. Essa recuperação não beneficia apenas investidores individuais, mas também sinaliza um momento favorável para o mundo corporativo, que passa a enxergar os imóveis comerciais como oportunidades de crescimento e estabilidade. Atualmente, o preço do m² desses imóveis está bastante atrativo, abrindo novas possibilidades para empresas e investidores.
Oportunidades para o futuro
O mercado imobiliário brasileiro revela-se multifacetado e resiliente, possuindo dinâmicas que o diferenciam de outros mercados internacionais. Enquanto as condições macroeconômicas sugerem cautela, os fatores culturais e a diversificação dos segmentos – entre imóveis prontos, lançamentos e imóveis comerciais – demonstram que o setor está longe de desacelerar.
Investidores e compradores atentos às particularidades do mercado podem encontrar oportunidades significativas neste momento. Quando as taxas de juros eventualmente começarem a cair, a demanda reprimida poderá desencadear um verdadeiro “boom” imobiliário. O foco começará a se deslocar dos investimentos financeiros para os imóveis. Os preços começarão a subir e as melhores oportunidades para se investir acontecem quando o mercado não está em alta. Assim, preparar-se desde já – seja através da aquisição de imóveis padrão, de alto luxo, do investimento em lançamentos de baixa renda ou da exploração das oportunidades no mercado comercial – pode significar posicionar-se estrategicamente para colher os frutos de uma nova fase de valorização.
Em suma, o cenário atual, apesar dos desafios macroeconômicos, revela um mercado robusto e diversificado, onde fatores culturais, oportunidades segmentadas e sinais de recuperação apontam para um futuro promissor.
